terça-feira, 19 de julho de 2011

Silêncio e Mentiras

O alarme tocou despertando-me não apenas para o choque provocado por suas palavras, tão angustiantes quanto alguém puxando repentinamente a cortina de um quarto escuro, cegando-me com a dolorosa luz do sol. Era o fato de que eu desconhecia completamente aquele homem. Imaginamos conhecer as pessoas que amamos, e, embora não devamos ficar surpresos ao descobrir que não as conhecemos, sofremos assim mesmo. Escutamos palavras ásperas daquele de quem é quase insuportável de se escutar. Justamente por isso dói tanto. A dor vem embalada no amargo embrulho da surpresa inconveniente. Só o que eu podia fazer era ficar sentada no banco do telefone e escutar, um tanto trêmula, pensando que todo mundo devia ser uma ilusão de ótica. Orgulhamo-nos ao pensar ou dizer o quanto conhecemos aquele que amamos, acreditamos nisso pura e simplesmente – mas de modo algum. São facetados de formas engenhosas, com centenas de lados obscuros, impossíveis de se descobrir mesmo no curso de uma vida inteira. Um amante existe somente em fragmentos e é a partir deles que construímos uma pessoa inteira. O que cada um de nós cria, já que o que falta é preenchido pela nossa imaginação, é a pessoa que desejamos que ela seja. Quanto menos a conhecemos, mais a amamos. E é por isso que sempre nos lembramos daquela primeira noite arrebatadora quando ela era uma instigante desconhecida. É o tipo mais difícil de entendimento, não só a respeito do outro, mas também de nós mesmos. Ver nossas vidas como uma ficção que escrevemos e na qual acreditamos. Silêncio e Mentiras. A sensação que tive naquela noite – de que eu não conhecia o homem com quem dividia a minha vida, não conhecia a mim mesma, de que talvez fosse impossível conhecer uma única alma no mundo – foi uma solidão apavorante.


(Nicolle Albiero)

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